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4 de abr. de 2011

A música como (a mesma) essência

Não são poucas as vezes que nos deparamos com a ideia de uma universalidade da comunicação musical, como se esta, como linguagem fosse completamente absorvível pelos ouvidos atentos, independente da origem étnica e histórica do individuo. Muito estranho soa esse pensamento nos dias de hoje, ainda que muito recorrente. Quando da subversiva virada do século XX, quando a música pós-romântica rompeu, seguindo seu curso através do século XIX, as fronteiras da tonalidade clássica, chegando ao extremo do cromatismo exacerbado, desprovendo o ouvinte das relações previsíveis das relações harmônicas e formais. Os compositores se viram diante de um dilema extremamente denso: o compositor tornou-se autônomo diante dos sons. A barreira da tonalidade transpassada abriu um leque de possibilidades ao qual cabia a pensadores da música reorganizar sua maneira de compor, buscando a mesma “verdade” que se encontrava numa sinfonia de Mozart dentro dos padrões do classicismo, ou uma busca beethoveniana de um desenvolvimento temático obsessivo, ou um rompimento brusco, em prol do programa, de um poema-sinfônico de Liszt. Ao buscar a mesma verdade, sem repetir e copiar os mestres utilizando-os como fôrmas, o leque expandiu-se, absurdamente, pois cada compositor se sentiu no dever de encontrar esse caminho por si só, ou no máximo, seguir o caminho de acordo com alguns colegas próximos, mas longe de tecer e imaginar grandes escolas e técnicas comuns como se fazia no passado. O resultado foi a imensa produção de ideias do século XX. Se Schoenberg reestruturou os 12 tons da escala temperada numa nova organização não-hierárquica entre os tons, outros ainda procuraram as sonoridades expandidas dos instrumentos tradicionais e/ou não convencionais, ainda outros procuraram buscar novas formas de se aproveitar a mesma e velha tonalidade, buscando o infinito dentro do mesmo, e em seguida, numa proporção geométrica, cada uma dessas saídas geraram novas fórmulas para que pudessem ser desenvolvidas (como o serialismo integral, a música aleatória, a música eletroacústica etc) onde a ideia era sempre expandir as possibilidades sonoras e expressivas da organização dos sons e timbres através da utilização de novos materiais e procedimentos.

Desse modo, passamos por um século extremamente rico acerca da produção e realização de ideias com a manipulação do som e consequentemente uma produção musical de uma pluralidade assustadora (grandiosa). Assustadora na medida que a velocidade dessas mudanças, a sede dos compositores e artistas em experimentar suas ideias, o surgimento do rádio, depois da gravação e o crescimento do poder do mercado impondo as necessidades que lhe convinha, são alguns fatores que promoveram um enorme distanciamento do público em geral dessa nova produção. Poucos acompanharam a nova música sendo feita, e conforme esta se desenvolve nessa velocidade, não se acompanhou a linha de raciocínio. Como uma vilarejo, onde se busca uma língua cada vez mais rica, mas que, passado muito tempo sem se ter contato com os habitantes, ao retornar, encontra-se um dialeto muito distante, incompreensível, passível de revolta por parte do novo-leigo diante da sua nova incapacidade imposta pelos seres lá “isolados”. Ora, se, então, ali falava-se uma língua universal, logo, todo esse processo a torna completamente local. Uma língua que precisará ser absorvida, que se entenda o processo de sua evolução para que, ao passo que o novo-leigo revoltado consiga estabelecer as conexões do seu conhecimento consumado para com o processo que gerou as modificações, fazendo com que a incompreensibilidade aos poucos se desfaça, e sua razão decifre os signos sonoros a ponto de, através da inteligibilidade, seu corpo reagir de forma espontânea aos estímulos, à emoção.

Logo, a universalidade não é bem uma ideia moderna da música. Ainda antes buscou-se muito tal conceito, e com efeito conseguiu-se, através de padrões rigidamente estabelecidos, promover uma música, ainda que puramente instrumental, que comunicasse diretamente aos ouvintes (acostumados com aquela organização) os signos musicais. O compositor tinha as ferramentas e os moldes na mão, cabia a ele trabalhar sobre os moldes a ponto de dosar a criação de expectativa, através do novo, do imprevisto, com o deleite da volta aos padrões e contemplar a expectativa. Assim estruturou Haydn, a sinfonia e a, depois chamada, forma sonata, que até hoje permeia a produção musical. Aos poucos a rebeldia social buscou o rompimento cada vez mais brusco dessa formalidade e das soluções harmônicas, pois quem se dispõe a ouvir o novo, não se contenta em ouvir repetições eternas das soluções e compreende que cada vez mais terá que se dispor a entender os signos que fogem àqueles já incorporados. Lógico, se se busca romper com alguma coisa, ainda que a forma, deve-se ter em mente que a forma padrão tem de estar subentendida, na obra e no ouvinte, e a expectativa não realizada de imediato cria o impulso emocional excitante. Aos poucos a expectativa se demora cada vez mais a ser realizada. Pouco a pouco na história dissonâncias vão deixando de tomar seu rumo corrente, agregam-se às consonâncias, a forma se dissolve, o tema musical passa a conduzir a obra, ainda que não pertença a uma estrutura. Até que a expectativa para de ser resolvida, quando se imagina o deleite de um repouso harmônico, tem-se uma modulação longínqua, que nunca mais retornará para o tom original e fará com que o repouso que é esperado não seja harmônico mas tenha outro sentido, como, por exemplo, de uma reexposição temática completa, onde reconheça-se um tema importante, ainda que este não esteja dentro de uma forma rígida, ou no tom original, quem sabe até esteja em posição métrica e escrita rítmica diferente.

As possibilidades eram (são) infinitas. E retorna-se ao fato do distanciamento dessa audição compromissada com o cerne da obra, ora, o que de diferente tem a música produzida desde a virada do século XX até hoje, senão a mesma busca de compreensão, ainda que sem a busca da hegemonia idiomática? Podemos dizer que a música ainda que pluralizada em tantos preceitos e conceitos, ainda é para ser entendida, apreendida pelo que ela é, pela sua habilidade de moldar os sons e de penetrar na nossa psique. Basta que a compreensão esteja um pouco mais aberta e bem intencionada, assim como os ouvidos, não apenas buscando “lugares-comum” no ouvir musical, mas sim, buscar, como o ouvinte de época de Mozart buscava a novidade naquilo que ele conhecia muito bem, nós temos que encontrar as bases que sustentam uma música de hoje em meio a tantas novidades que ela traz. É o mesmo princípio, porém, ao que antes era aplicado à “linguagem Universal” agora é só abstrair a “linguagem particular” para compreender o discurso e utilizar todas as particularidades para deixar aquilo que na música (como sendo a representação direta da Vontade – assim como o Mundo - Schopenhauer) é imanente que é a sua capacidade de transmitir seus signos ao ouvinte. Basta que este indivíduo não feche o ouvindo investigativo e auspicioso que será capaz de direcionar esses signos para a sua razão, tão logo cria-se o atalho para a direta sensação do prazer.

29 de abr. de 2009

A Música, o Bem e o Mal


O Bem e o Mal:
Que conceitos são esses, impostos como absolutos e certos, mas que são tão relativos? O fato é que não se sabe o que é o bem, menos ainda o que é o mal. Muito se escreve, tenta-se definir, impõe-se alguns conceitos como verdade e ponto, mas que, afinal, não definem as duas coisas de jeito nenhum. Se fossem absolutos, não haveria discussão sobre eles, haveria simplesmente a aceitação e fim. E então ainda assola a mente humana a dúvida de quando fazemos o bem ou o mal, não deveria ser simples e certo? E o pior, sempre quando alguém os considera simples e certo, acaba fazendo o oposto, faz-se o Mal quando se pensa fazer o Bem e vice-versa. Não é difícil achar exemplos disso. Basta olhar para grandes ícones da história, ou simplesmente olhar para o vizinho. Temos exemplos desse paradoxo a dar com pau.

Hitler fez o que fez pensando que faria o bem para a população ariana, defendendo uma raça pura, livre de deficiências ou “impurezas”, e por estar convicto desse bem, o Holocausto existiu, e sabe-se muito bem que esse bem foi um verdadeiro Mal social, histórico e humano. Sem falar na falta de fundamente biológico, pois sabe-se que a mistura de raças é que promove a troca de genes dominantes que são responsáveis pela aumento de resistências e diminuição de “deficiências”, não fosse tal fato, seguramente a humanidade não teria chegado até onde chegou, afinal, o surgimento de novas espécies dependem da interação e mutação benéfica do DNA que, quando muito parecidos, tendem a trazerem mais problemas paras os novos indivíduos do que “pureza” no sentido mais benevolente da palavra.

Ou até mesmo quando a superproteção dos pais acabam gerando filhos mimados demais, cheios de vícios e problemas psicológicos, todos causados pelo Bem em excesso.

Ficar citando milhares de exemplos é inútil, cada um tem pode achar facilmente um exemplo próximo, um exemplo prático ou teórico. O Fato é que a linha entre os dois é muito estreita, estreita demais. De tão estreita, chega a ser inexistente.

Não existe o Bem livre do Mal. Um carrega o outro. Um está dominado pelo outro. E isso se dá pelo fato de que são a mesma coisa. Nem deus conseguiu fugir da tarefa de fazer o Mal. Diante disso, como acreditar que se faz o Bem, que se acredita no que é certo ou errado baseado nesses princípios vagos? Como acreditar então, que deus está livre do Mal e o satanás totalmente alimentado por Ele (o Mal)? Se o Bem carrega o Mal, e o Bem é representado por deus, logo o satanás está subentendido em deus e vice-versa.

Partindo disso, temos que o que realmente é etéreo e puro é tudo aquilo que simplesmente está livre desses conceitos, separado dessas atribuições, simplesmente liberto dessas funções dogmáticas.

A Música: A Música pura não tem função nenhuma de transmissão de sentimento ou de significação, afinal, atribuímos esses sentidos a música apenas para facilitar a recepção e entendimento dela. Subjetivamos sentimentos ás passagens harmônicas e melódicas (quando existem) apenas para que com isso sua receptividade seja simplificada pelo nosso consciente. Atribuímos o som de um riacho, da chuva ou de um trovão para tentarmos criar uma cognição inexistente, o mesmo acontece com a anunciação de amor, saudade, tristeza e alegria, mas nada disso está na música, e sim dentro de que ouve. A música é a música. Lógico que aqui se fala daquela música sem letra (afinal letra em um empréstimo da literatura, e livre das convenções impostas seja pelo período composto, ou seja, pelo próprio compositor. Se o compositor diz que ali está representada a chuva, parte-se de um pressuposto dogmático, e não de que ali esta a chuva, afinal chuva é chuva e música é música.

Dessa forma a função social, militar, literária da música são apêndices atribuídos a ela secundariamente pelo homem, e não que está seja imanente aos sons ali. Grande parte da não aceitação do público leigo e até profissional da música contemporânea (da música e da arte em geral) está no fato de que essa música está livre desses pressupostos por trazerem sons tão novos e aparentemente “desorganizados” que a mente não consegue atribuir qualquer outro significado sentimental ou literal de forma que bloqueiam a escuta dos sons por uma deficiência própria e não da música.

Mesmo nesse ínterim, ainda define-se a Música boa ou ruim diante dos processos de composição ali propostos, mas não se pode dizer, ao fazer a escuta dela, de que estamos diante de algum Bem ou algum Mal. Os ignorantes na área que não vão entender a essência dos sons propriamente dita, dirão que a música contemporânea lhes fazem mal. Besteira!! o que lhes fazem mal é a iminência da sua própria ignorância diante dos sons que a sua cabeça não consegue entender, e além de tratar disso como um Mundo novo a se descobrir e estudar, a mesquinhez humana sobressai na maioria das vezes, com a prepotente frase: “Isso não é Música”.

Isolando esse exemplo de mesquinhez humana e tratando de pessoas dispostas a entender qualquer música (seja contemporânea ou da chamada tradicional) desse prisma, terá contato, talvez pela primeira vez, com algo realmente etéreo. Os minutos de escuta pura se tornarão a primeira vez que esta pessoa estará livre do Bem/Mal, e quem sabe assim, pra quem acredita, realmente se aproxime de DEUS.

14 de abr. de 2009

A 2ª Postagem - que queria ser a primeira ! -

E então, uma eternidade depois da criação e disseminação dos blogs, hoje eu crio o meu. Uma primeira postagem com um poema meu que simplesmente ilustra a partida, e esse texto que introduz mais a mim do que a qualquer um visitante neste espaço. Belo espaço. E por que publicar coisas que escrevo? Por que ir contra o que sempre fiz que foi escrever para mim? Por que começar um blog partindo da idéia (ideia) de não divulgá-lo? E por que se preocupar?

Se preocupar, hoje em dia, deve seguir padrões prontamente definidos por uma massa. É improvável e insuportável ao meio social se preocupar com qualquer coisa que não seja "preocupável", e o pior, publicar a preocupação... desastroso. "Don't worry, be happy". Pudera minhas preocupações se englobarem nos grandes assuntos pertinentes: A devastadora ação do homem a saúde do planeta, A devastadora ação do homem à sua saúde, A devastadora ação do homem que gera a fome, A miséria, A devastadora ação do homem que gera a miséria, A miséria do ensino brasileiro, A devastadora corrupção política, A devastadora crise financeira Mundial, A devastadora mundialidade do Mundo.

Neste espaço o Mundo sou eu. Quem queira saber do mundo que não sou eu, que busque informações em outras galáxias da internet, que dispõe de idéias suficientes e temas mais o que suficientes e informação em demasia e e e ... E não venha buscar a coerência de um texto bem escrito, digno de pontuação nos melhores vestibulares, um texto mal-escrito digno de texto "popularescos" ou um texto explícito digno de um bom jornal.

Um dos problemas que mais aflige o Mundo é a individualidade exacerbada, que induz a cada um a não pensar no próximo. O que é mentira. A individualidade é escassa hoje em dia. Somos uma massa. Estamos sempre agrupados com elementos desconhecidos, presente no clichê sozinhos na multidão. Ninguém ouve ninguém nesse mausoléu. São milhões de pessoas gritando ao mesmo tempo, expondo as vísceras de forma tão coletiva que é impossível alguém ouvir alguém.

E falando em ouvir, o que se pode dizer de ouvir... Quem pára o Mundo para escutá-lo... (perguntas indignadas voltadas para a reflexão do assunto aleatório do próximo páragrafo não serão, necessariamente, identificadas com o ponto de interrogação) Ouvir é uma arte e requer paciência, concentração e muito (mas MUITO) tempo. Tempo é dinheiro. Tempo, não é dinheiro porque tempo tem um valor que pode não ser reembolsável. O que é mais caro que o próprio dinheiro? O tempo, nos dias de hoje, vale mais. E gasta-se o tempo tão arbitrariamente quanto os poucos centavos que porventura estão no bolso. E ainda falam por aí que todos os anos de repressão militar no Brasil não passou de uma "ditabranda". Tempos passados. Aliás, que trocadilho interessante, pra não dizer deprimente.

São votos para o bom procedimento do blog manter-se cada postagem sobre um mesmo assunto. São votos e não promessas, muito menos compromissos.

Cuidado, qualquer dia desses uma postagem pode te interessar. Quando isso acontecer, comentários são bem-vindos. Caso contrário, também.

Não é o foco desse blog ter um bom procedimento !

Sem mais !

A Postagem

Quem começa com o pé direito
Está fadado a começar certo
Mesmo que comece o errado
Entra marchando e contando
Pé-direito, pé-esquerdo, pé-direito, pé
Entra de cabeça erguida
Entra de supetão
Quem começa com o pé direito
Sente a necessidade de começar
É aplaudido
É o pé direito
É o braço direito
É tudo aquilo que sempre se quis

Quem começa com o pé direito
Tem muitas chances
Se tropeça, o esquerdo escora
Se não tropeça, o esquerdo escora
Se da gargalhada, o esquerdo escora
E, se desiste, o esquerdo, escora.

E hoje entrei com os dois pés juntos.